MULHERES QUE TRAZEM A VIDA NA VOZ
A história da canção brasileira sempre esteve ligada às muitas cantoras e intérpretes, que através da “força estranha” impulsionada pelos seus cantares, ajudaram a escrevê-la. Todas elas, cada qual ao seu modo, independente do gênero musical escolhido, na maioria das vezes e, sem pudor algum, escancararam suas dores, suas mazelas, falaram/cantaram suas perdas e ganhos, sonhos, aspirações e prazeres.
Das Aracis (de Almeida e Côrtes) à Zizi Possi. Passando pelas Carmens (Miranda e Costa), as irmãs Batista (Linda e Dircinha), Marlene, Emilinha, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Maysa, Dolores Duran, Silvinha Teles, Nora Ney, Elza Soares, Maricenne Costa, Wanderléa, Nana Caymmi, Nara Leão, Gal, Bethânia, Elis Regina, Rosa Passos, Clementina de Jesus, Clara Nunes, Simone, Elba Ramalho, Ângela Ro Rô, Marina Lima, Marisa Monte, Cássia Eller, Mônica Salmaso, e outras tantas poderosas vozes, algumas delas reverenciadas e entrevistadas neste inaugural projeto (Salve Rainhas).
São cantoras/intérpretes que a cada momento vem “tatuando” na memória afetiva de todos nós, suas impressões sobre o mundo e sobre a vida, em forma de música. Não por coincidência, cada qual tem o seu “altarzinho” erguido no escaninho secreto da alma de seu fã/súdito/seguidor. E foi pensando nesta intrínseca e particular relação entre o público e a cantora, esta inusitada mistura entre santidade, desejo, adoração materna e reverência “imperial”, que me veio à luz o despretensioso, mais sincero nome para este projeto que agora iniciamos.
O “Salve Rainhas” não se trata especificamente de um show. Ele tem o formato de um talk show, que será pontuado por afinadas e afiadas conversas musicais. À frente, na condição de entrevistadora, a não menos atenta Malluh Praxedes, jornalista e escritora, que em sua ampla bibliografia aborda o universo feminino com extrema delicadeza e originalidade.
Mais que uma original idéia - considerando que este formato de talk show já circula timidamente pelo país -, penso no projeto “Salve Rainhas” como um exercício da necessidade extrema de possibilitar que os cantares e as histórias dessas mulheres que trazem a vida na voz, possam chegar cada vez mais às diferentes tribos de gerações diversas. Pois acredito que a grande música não possui prazo de validade. Pode e deve ser consumida hoje e sempre.
PEDRINHO ALVES MADEIRA
(Concepção, Curadoria Artística e Direação Geral do Projeto Salve Rainhas)